Mulher e criança asurini fazendo um vasilhame cerâmico. Foto: Fabíola Silva, 1998.
Mulher e criança asurini fazendo um vasilhame cerâmico. Foto: Fabíola Silva, 1998.

Os povos indígenas dedicam grande parte do seu tempo em atividades relacionadas à alimentação. Isso porque é preciso obter ou produzir os alimentos: criar animais, como galinhas e porcos; realizar expedições de caça e de pesca; coletar frutos no mato; preparar a roça e colher seus produtos.

Além de produzir o alimento, também é preciso construir as ferramentas e os utensílios como armadilhas, canoas, cestos, arcos e flechas, zarabatanas, entre outros, necessários para realizar as tarefas.

Mulheres kalapalo preparam massa de pequi. Foto: Beto Ricardo, 2002.
Mulheres kalapalo preparam massa de pequi. Foto: Beto Ricardo, 2002.

Para realizar cada uma das atividades, as pessoas devem conhecer muito bem a região onde vivem: quais são as épocas de chuva e de seca; como é o comportamento de cada animal; qual é a época em que os frutos amadurecem; qual é o melhor período para preparar, plantar e colher os produtos da roça etc.

Atividades da roça

Roça yanomami, aldeia Yaritha, na fronteira do Brasil com a Venezuela. Foto: François-Michel Le Tourneau, 2006.
Roça yanomami, aldeia Yaritha, na fronteira do Brasil com a Venezuela. Foto: François-Michel Le Tourneau, 2006.
Entre as diferentes populações indígenas, a roça é uma atividade praticada por homens e mulheres. Mas as atividades que realizam não são as mesmas.

Preparar o terreno para a roça é tarefa dos homens. Primeiro, eles derrubam um trecho de mato. Depois de um tempo, quando o mato derrubado seca, colocam fogo para limpar a área e as cinzas são usadas como adubo. Em seguida, fazem uma limpeza na roça, tirando os galhos e restos de árvores.

Mulher Guajá do Posto Indígena Guajá, TI Alto Turiaçu, ralando mandioca. Foto: Louis Carlos Forline, 1998.
Mulher Guajá do Posto Indígena Guajá, TI Alto Turiaçu, ralando mandioca. Foto: Louis Carlos Forline, 1998.

As outras atividades da roça são realizadas pelas mulheres. Quando caem as primeiras chuvas, elas plantam espécies como milho, feijão, mandioca, batata, amendoim, cará etc. Depois mantém a roça limpa, retirando as ervas daninhas, que prejudicam o desenvolvimento da plantação.

Quando os alimentos cultivados estão maduros, as mulheres fazem a colheita e os carregam em cestos de palha até as aldeias.

Veja como fazem os Tuyuka, que vivem no norte da Amazônia, próximos aos rios Negro e Uaupés.

Utensílios domésticos tuyuka

Índia hupda do Médio Tiquié. Foto: Aloisio Cabalzar/ISA, 2002.
Índia hupda do Médio Tiquié. Foto: Aloisio Cabalzar/ISA, 2002.

Os produtos colhidos nas roças são transportados para casa em aturás, cestos de cipó que as pessoas levam às costas suspensos por uma alça passada à volta da cabeça.

Os Tuyuka não fazem os cestos cargueiros que usam. Eles são fabricados pelo povo Hupda, que os entregam aos Tuyuka em troca de outros produtos de sua necessidade, como sal, panelas de alumínio, roupas, farinha e mandioca.

No alto rio Negro vivem pelo menos 20 povos indígenas diferentes. Os Tuyuka são um deles. Alguns povos são seus vizinhos: o povo Tukano ou Yebamasã, o povo Bará, o Barasana, o Hupda, o Desana... Outros vivem em rios mais distantes, como os Baniwa.

Canoa tuyuka. Ilustração: comunidades Tuyuka de Pari Acima, Alto Rio Tiquié. Fonte: Histórias tuyuka de rir e de chorar. Associação Escola Indígena Utapinopona Tuyuka, FOIRN e Instituto Socioambiental (ISA), 2004.
Canoa tuyuka. Ilustração: comunidades Tuyuka de Pari Acima, Alto Rio Tiquié. Fonte: Histórias tuyuka de rir e de chorar. Associação Escola Indígena Utapinopona Tuyuka, FOIRN e Instituto Socioambiental (ISA), 2004.

Os Hupda são especialistas na fabricação de cestos. Os Tuyuka, especialistas em canoas. Já os Desana são fabricantes de balaios de arumã usados para servir beiju. Os Baniwa são os únicos fabricantes de raladores de mandioca.

Existe na região um grande sistema de trocas, o que garante que os raladores baniwa cheguem a todas as outras etnias; assim como os aturás hupda, as canoas tuyuka e assim por diante.

(Texto elaborado pelas comunidades Tuyuka de Pari Acima, Alto Rio Tiquié)

Atividades de caça

O Araweté Mo´inowï-do fazendo flechas. Foto: Eduardo Viveiros de Castro, 1982.
O Araweté Mo´inowï-do fazendo flechas. Foto: Eduardo Viveiros de Castro, 1982.

A caça é uma atividade masculina realizada individual ou coletivamente e pode ser feita nas proximidades da aldeia ou em lugares mais distantes. Nestas ocasiões, os homens passam dias acampados no mato.

As armadilhas, arcos, flechas e tudo o que é importante para garantir uma boa caçada é construído pelos homens no dia a dia.

O Araweté Iriwopay-ro num acampamento de caça. Foto: Eduardo Viveiros de Castro, 1981.
O Araweté Iriwopay-ro num acampamento de caça. Foto: Eduardo Viveiros de Castro, 1981.

Para ter sucesso e voltar para casa com muita comida, é importante conhecer os hábitos dos animais: se são noturnos ou diurnos; o que gostam de comer; se andam sozinhos ou em bando; como são os rastros que deixam no chão; onde costumam se esconder; que cheiros têm... Dessa forma, fica mais fácil encontrá-los, preparar a caçada e fazer armadilhas. Os cães também podem ajudar a localizar os animais no mato.

Atividades de pesca

Peixes assando. Terra Indígena Enawenê-Nawê, Mato Grosso. Foto: Vincent Carelli, 2009.
Peixes assando. Terra Indígena Enawenê-Nawê, Mato Grosso. Foto: Vincent Carelli, 2009.

O peixe é um alimento importante para muitas populações indígenas, que conhecem e usam diferentes técnicas de pesca. As técnicas mais utilizadas pelos diferentes povos são: uso do timbó (um tipo de cipó) e outras plantas venenosas; a pescaria com anzol e linha; uso de armadilhas, flechas...

Em algumas comunidades apenas os homens saem para pescar e muitas vezes ficam dias acampados perto de rios e lagoas. A pescaria também pode ser feita pelas mulheres, ou ser realizada em família, e assim esse trabalho vira uma grande diversão!

Você sabe o que é bater timbó?

Bater timbó é um tipo de pescaria muito comum entre diversas populações indígenas. É uma atividade que geralmente precisa de muita gente, tanto para o seu preparo, quanto para a coleta dos peixes.

Timbó usado pelos Ikpeng em suas pescarias. Foto: Rosana Gasparini/ISA, 2006.
Timbó usado pelos Ikpeng em suas pescarias. Foto: Rosana Gasparini/ISA, 2006.

O timbó é um cipó. Ele é cortado em pedaços, que são colocados na água. Com a ajuda de uma madeira, eles são fortemente batidos, até que fiquem em fiapos. Neste momento, o cipó já triturado é sacudido com força embaixo d’água, onde libera uma substância branco-azulada que parece flocos de sabão.

Essa substância do timbó é venenosa para os peixes que, quando não morrem de imediato, ficam atordoados e são facilmente flechados ou pegos.

Finalmente os peixes são empilhados aos montes e levados à aldeia, garantindo uma grande refeição!

Conheça a importância que os peixes têm para os Enawenê-Nawê:

A pesca entre os Enawenê-Nawê

Enawenê-Nawê pescando. Terra Indígena Enawenê Nawê, Mato Grosso. Foto: Vincent Carelli, 2009
Enawenê-Nawê pescando. Terra Indígena Enawenê Nawê, Mato Grosso. Foto: Vincent Carelli, 2009

Os Enawenê-Nawê, que vivem no Mato Grosso, não comem carne de caça e raramente comem aves. Alimentam-se de produtos da roça, como mandioca e milho, e de peixe. Para eles, os peixes são muito importantes, pois são fundamentais para a realização de suas festas e são usados como objetos de troca.

Conhecem bem os processos de reprodução dos peixes e sua migração pelos rios. É a partir destes conhecimentos que os homens organizam grandes pescarias coletivas, especialmente nos meses de fevereiro e março quando o ritual Yãkwa é realizado.

Barragem construída para auxiliar os Enawenê Nawê na pesca, Terra Indígena Enawenê Nawê, Mato Grosso. Foto: Vincent Carelli, 2009.
Barragem construída para auxiliar os Enawenê Nawê na pesca, Terra Indígena Enawenê Nawê, Mato Grosso. Foto: Vincent Carelli, 2009.

Para pescar todos os peixes necessários para a realização do ritual, constroem barragens no rio que impedem a passagem dos peixes e, além disso, fabricam armadilhas. É dessa forma que conseguem pegar muitos peixes, que são levados para a aldeia e que logo servirão de alimento para toda comunidade durante alguns meses. Os Enawenê-Nawê defumam os peixes para que não estraguem ao longo do tempo e assim garantem muitas refeições.

Além da pesca para o ritual Yãkwa, os Enawenê-Nawê realizam pescarias familiares, utilizando outras técnicas, como a pesca com timbó, uso de anzóis e pequenas armadilhas colocadas nos riachos.

Mãos na massa!

Agora você vai conhecer um pouco sobre as comidas e como elas são preparadas por diferentes povos.

O Território Indígena do Xingu, que fica no estado de Mato Grosso, é uma região que abriga diversas populações indígenas, que possuem diferentes línguas e características sociais e culturais.

Essa diversidade também está presente na culinária desses povos. Você consegue imaginar a variedade de alimentos e as várias maneiras de prepará-los que cada uma dessas comunidades conhece?

Veja aqui algumas receitas de populações indígenas do Xingu!

Kanape ou pão de mandioca com amendoim

Desenho de Moreajup Kaiabi. Fonte: Aprendendo Português nas escolas do Xingu (livro 2). Instituto Socioambiental (ISA), Associação Terra Indígena do Xingu (ATIX), 2005.
Desenho de Moreajup Kaiabi. Fonte: Aprendendo Português nas escolas do Xingu (livro 2). Instituto Socioambiental (ISA), Associação Terra Indígena do Xingu (ATIX), 2005.

Primeiro a mulher precisa tirar mandioca na roça. Quando traz para casa, deixa esta mandioca na água. Quando amolecer, tira da água e descasca. Depois deixa no sol para secar a massa. Assim que secar a massa de mandioca é preciso socá-la no pilão. Depois de socada e peneirada, é preciso socar a massa com amendoim. Então mistura a massa de mandioca com amendoim, depois molha um pouco e faz uma bola.

Depois precisa acender o fogo, esperar ter brasas para botar o pão em cima da brasa. Assim que torrar um pouquinho, já pode comer.

(Receita de Moreajup Kaiabi)

Mutap

Desenho de Awatat Kaiabi. Fonte: Aprendendo Português nas escolas do Xingu (livro 2). Instituto Socioambiental (ISA), Associação Terra Indígena do Xingu (ATIX), 2005.
Desenho de Awatat Kaiabi. Fonte: Aprendendo Português nas escolas do Xingu (livro 2). Instituto Socioambiental (ISA), Associação Terra Indígena do Xingu (ATIX), 2005.

Primeiro o homem vai pescar. Ele traz os peixes e a mulher trata, tira a barriga e as escamas. Depois coloca o peixe na panela e põe pra cozinhar com água, sal e pimenta. Acende o fogo e espera cozinhar, cerca de 40 minutos. Quando o peixe amolecer a mulher põe farinha de mutap e mexe com reminho ou cuia. Assim que ficar pronto, pode tomar junto com o mingau de milho com amendoim e arroz.

Nós Kaiabi também usamos outros ingredientes no mutap: folha de taioba, folha de mandioca e macaxeira. Com esses ingredientes o mutap também fica gostoso.

(Receita de Awatat Kaiabi)

O que comer na reclusão?

Quando um menino ou uma menina estão deixando a fase da infância, eles devem começar a aprender com seus familiares todas as atividades que deverão desenvolver quando forem adultos e tiverem a sua própria família. É comum em muitas populações indígenas que os meninos e as meninas fiquem afastados de todo mundo (menos de seus familiares mais próximos) por um tempo. É isso o que chamamos de reclusão ou resguardo. Neste período de reclusão eles devem obedecer a algumas regras do povo indígena do qual fazem parte.

O texto abaixo, retirado do livro Saúde, Nutrição e Cultura no Xingu (2004), conta como é esta fase entre os Yudja que vivem no Território Indígena do Xingu.

A moça Yudja na reclusão

No início da reclusão uma pessoa não pode comer o que não deve, ou seja, as frutas que amadurecem mais cedo, como banana, mamão, melancia e frutas do mato (api, ingá e outras). A moça não deve mexer com o fogo ou preparar alimentos. Neste momento só a mãe ou as irmãs mais velhas vão cuidar dela, não pode ter contato com qualquer pessoa, somente com a família.

Desenho de Yapariwa Yudjá. Fonte: Saúde, Nutrição e Cultura no Xingu. Instituto Socioambiental (ISA), Associação Terra Indígena do Xingu (ATIX)e Imprensa Oficial, 2004.
Desenho de Yapariwa Yudjá. Fonte: Saúde, Nutrição e Cultura no Xingu. Instituto Socioambiental (ISA), Associação Terra Indígena do Xingu (ATIX)e Imprensa Oficial, 2004.

A reclusão da mulher começa logo após a primeira menstruação. O homem jovem também fica recluso. Durante a vida na reclusão, a pessoa come os seguintes alimentos: peixe cozido e assado sem sal, mingau de mandioca, beiju de polvilho e farinha fina.

A reclusão tem seu significado. Se é menina, a mãe, as irmãs ou a avó podem ensinar para ela como e faz rede, a tecelagem de vários desenhos, pintura no corpo e nos objetos. O menino é a mesma coisa. O pai tem que ensinar seu filho a fazer flecha, arco, peneira, borduna, remo e outras coisas que são necessárias aprender.

Durante esse tempo que a menina fica reclusa o pai e a mãe dão ervas para ela. Algumas ervas precisa beber e vomitar para fazer a limpeza dentro do corpo. Outra erva serve para tomar banho com ela. Isso no caso da menina. Se for menino, muito mais ele precisa usar: para vomitar, tomar banho, pingar nos olhos e algumas que podem ser esfregadas no corpo.

Durante esse tempo a pessoa muda de vida, passa do tempo de criança para o tempo de adulto.

(Texto de Yapariwa Yudja)

Entre os Wajãpi, povo que vive no Amapá, no Pará e na Guiana Francesa, a alimentação durante o resguardo da moça é bem diferente. Descubra aqui o que elas podem comer e o que elas devem evitar quando estão na reclusão.

O texto abaixo foi retirado do caderno de textos dos pesquisadores e professores bilíngues wajãpi Jane Reko Mokasia – Fortalecendo a Organização Social Wajãpi (2008).

O resguardo da moça wajãpi

Temos um jeito de resguardar a moça quando ela menstrua pela primeira vez e na segunda vez também. As regras são: não comer qualquer alimento, não pode conversar com as pessoas, não andar embaixo do sol, não tomar chuva, não pisar em cima da terra, não pode pensar em qualquer coisa, não dormir muito, não tomar banho no rio.

Resguardo da moça. Ilustração: Jawaruwa Wajãpi.
Resguardo da moça. Ilustração: Jawaruwa Wajãpi.

Todas essas regras são respeitadas, a moça não pode quebrar. Quando a moça quebra as regras, pode causar vários problemas: morte, ficar sempre doente e outras coisas que podem acontecer. Por isso o avô, a avó e a mãe dela tem que conversar, alertar, aconselhá-la sobre essas coisas perigosas.

Quando a moça está menstruada pela primeira vez, fica de resguardo. Por isso não pode comer qualquer comida como carne de queixada, de caititu, batata, cará etc. Se a moça come qualquer carne, depois vão aparecer coisas no corpo dela como, por exemplo, um tipo de bolinha. Quando a moça está de resguardo são seu pai e sua mãe que selecionam as comidas certas. Ela pode comer beiju, nambu e alguns peixes, como traíra. Se a moça comer qualquer comida, aí ela vai sonhar com coisas feias e vai ficar velha rapidamente.

(Texto dos pesquisadores e professores bilíngues wajãpi)

O que comem os Tuyuka?

O texto abaixo, retirado do livro Histórias Tuyuka de rir e de assustar (2004), conta quais são os principais alimentos deste povo que vive na região do Alto Rio Negro, no noroeste da Amazônia.

A pesca e a caça tuyuka

Às vezes os Tuyuka saem para pescarias e expedições de caça em lugares mais distantes, em rios com mais peixes. Lá constroem uma tenda de cobertura de palha chamada tapiri, fazem fogo para se aquecer à noite, para cozinhar ou defumar (moquear) os peixes.

Passam dias e noites na pescaria, aproveitando também as oportunidades de caça.

Os homens tuyuka pescam muito, sendo o peixe sua principal fonte de proteína. Comem mais peixe do que caça.

Tinguijada tuyuka (peixes na canoa, depois de pescaria com timbó). Pupunha, alto rio Tiquié, Colômbia. Foto: Aloisio Cabalzar/ISA.
Tinguijada tuyuka (peixes na canoa, depois de pescaria com timbó). Pupunha, alto rio Tiquié, Colômbia. Foto: Aloisio Cabalzar/ISA.

Os Tuyuka usam seus instrumentos tradicionais de pesca como o puçá de tucum, matapi, cacuri, jequi, timbó e caiá. (tipos de armadilhas fixas ou móveis feitas de madeira ou talas de palmeiras), mas também usam instrumentos industrializados, como anzóis de metal e linhas de nylon.

A caça existe em maior quantidade no centro da mata, bem longe do movimento das comunidades e seu entorno. Estes locais são ricos de caça, mas também são perigosos.

É comum os caçadores saírem com espingarda, e alguns possuem cães de caça, que localizam animais no mato.

Antigamente os Tuyuka caçavam mais com arco e flecha e zarabatana. A zarabatana é um tubo longo feito com uma palmeira de mesmo nome, que tem seu miolo oco. Através do tubo são soprados pequenos dardos envenenados, que paralisam a presa atingida. É mais usada para atingir macacos e aves, no alto.

Costumam caçar animais como antas, porcos-do-mato (caititus e queixadas), macacos, tatus e outros. Dos répteis, caçam e comem lagartos, teiús e jacarés.

Jabutis e aves, como jacamins são pegos na mata e criados como animais de estimação, e por isso nunca são consumidos como alimentos.

(texto das comunidades Tuyuka de Pari Acima, Alto Rio Tiquié)

Roças

A mandioca é plantada todo ano em grandes roças. A mandioca brava, como é conhecida na região norte, é diferente da macaxeira ou aipim. Ela contém um veneno que precisa ser eliminado antes do consumo. Por isso é colhida e processada (ralada e espremida) para separar a parte sólida (massa) da líquida (chamada de manicuera ou tucupi, em outros locais da Amazônia). O líquido é fervido até evaporar todo o veneno, que então pode ser consumido. A massa é torrada em fornos, na forma de grandes pães circulares conhecidos como beijus.

Roça da Dona Amélia (Tuyuka) Comunidade São Pedro, Alto Rio Tiquié, Terra Indígena Alto Rio Negro, Amazonas, Brasil.  05/2005 Crédito: Beto Ricardo/ISA
Roça da Dona Amélia (Tuyuka) Comunidade São Pedro, Alto Rio Tiquié, Terra Indígena Alto Rio Negro, Amazonas, Brasil. 05/2005 Crédito: Beto Ricardo/ISA

Cada família possui entre 3 e 5 roças em diferentes fases de crescimento. Enquanto uma está sendo plantada, outra está amadurecendo e outra pronta para o consumo. Visitam as roças quase todos os dias, para fazer a colheita da mandioca e outros produtos, como banana, abacaxi, cucura, cubiu e outras frutas; batata-doce, cará e outros tubérculos; pimenta etc. As pimentas são utilizadas para temperar peixes e carnes.

(texto das comunidades Tuyuka de Pari Acima, Alto Rio Tiquié)

Alimentação diferente

Alguns alimentos que os povos indígenas consome parecem estranhos para os moradores das cidades mas, além de saborosos, são muito nutritivos e têm fartura na floresta. Podemos citar as larvas de borboletas (lagartas e mochivas), as formigas tanajuras, manivaras ou içás cheias de ovos. Na época em que estão com ovos, fazem a revoada para formar novos formigueiros. São capturadas quando saem do olho do formigueiro e consumidas ao natural ou torradas e piladas, resultando numa farinha muito saborosa.

(texto das comunidades Tuyuka de Pari Acima, Alto Rio Tiquié)

O que é paparuto?

O paparuto é uma comida típica dos índios Krahô, que vivem no estado do Maranhão, no Cerrado brasileiro. Mas outros povos próximos a eles também preparam este prato, como os Gavião Pykopjê. Em várias festas o paparuto é uma receita importante.

E como se faz o paparuto?

Primeiro é preciso ralar a macaxeira (aipim) ou a mandioca-brava. Se fizer com a mandioca-brava, precisa retirar o veneno da massa com a ajuda do tipiti. O tipiti é um instrumento feito de palha que serve para apertar a massa da mandioca ralada e retirar todo o líquido, onde está o veneno.

Mulher Gavião Pukobye prepara paparuto. Foto: Prêmio Culturas Indígenas.
Mulher Gavião Pukobye prepara paparuto. Foto: Prêmio Culturas Indígenas.

Depois tem que colocar folhas de bananeira no chão, no formato de uma cruz, e espalhar essa massa pelo seu centro. Pedaços de carne são colocados em cima da massa e depois cobertos com mais mandioca. Logo, as folhas são dobradas sobre a massa, formando um embrulho de forma quadrada, que é amarrado e levado para cozinhar do lado de fora da casa.

Paparuto assando na fogueira. Foto: Prêmio Culturas Indígenas.
Paparuto assando na fogueira. Foto: Prêmio Culturas Indígenas.

Na fogueira colocam pedras e quando estas estão bem quentes o embrulho é colocado sobre elas e coberto por mais pedras quentes, em cima das pedras colocam uma camada de folha de bananeira e outra de folha de palmeira. Uma camada de terra cobre tudo isto, formando uma espécie de forno onde o paparuto irá cozinhar. Quando está pronto, é descoberto e levado ao pátio da aldeia e repartido entre todos.

Algumas vezes o milho é usado no lugar da mandioca.

Fontes de informação

  • Associação Terra Indígena do Xingu (ATIX) e Instituto Socioambiental (ISA)

Aprendendo Português nas Escolas do Xingu - livro 2 (2005).

  • Associação Terra Indígena do Xingu (ATIX) e Instituto Socioambiental (ISA)

Saúde, Nutrição e Cultura no Xingu (2004).

  • Associação Escola Indígena Utapinopona Tuyuka, FOIRN e Instituto Socioambiental (ISA)

Histórias Tuyuka de rir e de chorar (2004).

  • Julio Cezar Melati

Ritos de uma Tribo Timbira (1978).

  • Pesquisadores e professores bilíngues wajãpi, Conselho das Aldeias Wajãpi (Apina), Instituto de Pessquisa e Formação em Educação Indígena (Iepé), Nucleo de História Indígena e do Indigenismo (NHII/USP), Museu do Índio - Funai e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN/Minc

Jane Reko Mokasia - Fortalecendo a Organização Social Wajãpi (2008).